sábado, 2 de abril de 2011

Etnocentrismo




      O conceito antropológico segundo o qual o valor da cultura do “outro” é julgado nos termos da cultura do “eu” é denominado etnocentrismo. Um conceito egocêntrico que cala a voz de um grupo e dá magnitude e preponderância à do outro, hierarquizando culturas e apresentando conseqüências sobretudo sociais. Envolvendo sentimentos e emoções, esse “comportamento conceitual” segue sob ressalva de seu antagônico, o Relativismo.
      Apoiado sobre essa visão ou forma de pensamento onde o “eu” é superior ao “outro”, o etnocentrismo caracteriza-se pela imposição de valores culturais e sociais entre grupos, onde um deles é subjugado e desvalorizado. A diferença entre os grupos étnicos ou de nacionalidades distintas deve ser reconhecida e considerada mediante aceitação de que não existem grupos superiores ou inferiores, mas sim diferentes.
      De um lado, o grupo do “eu”; o grupo que crê nos mesmos deuses, que come da mesma culinária, que pensa da mesma forma; do outro lado, o grupo do “outro”, que se comporta diferente, que adora deuses diferentes, que vive diferente, seja por questões culturais, por desenvolvimento tecnológico e cientifico  ou por quaisquer d’outros fatores. Grupos diferentes vistos sob uma ótica etnocêntrica que provoca choques culturais. Rotular e aplicar estereótipos nos quais nos guiamos para confrontar cotidianamente as diferenças abre-nos as portas para essa visão, fazendo com o que busquemos arraigar nossos valores. Esse comportamento pode não nos permitir um crescimento sócio-cultural, criando uma sociedade estática, ancorada em princípios que não sofrem atualizações.
      Diversos exemplos desse comportamento podem ser citados, desde aqueles rotineiros, que observamos freqüentemente ao nosso redor, até aqueles que marcaram e continuam marcando a nossa sociedade. É o caso dos preconceitos diversos, contra judeus, negros, homossexuais, entre outros; o arianismo de Hitler e as idéias etnocêntricas sobre “mulheres”, “índios”, “nordestinos”...
      Tudo isso reflete sentimentos que remetem ao egoísmo, à intolerância e desvalorização do coletivo, provocando conseqüências graves, como numerosos conflitos sociais, ou conseqüências não tão drásticas, ao que chamamos de Etnocentrismo cordial. Na maioria das vezes essa visão de mundo trás por somação situações conflituosas, genocídios, guerra, racismo; o que marca uma sociedade, por menos, historicamente.
      Uma ciência sobre as diferenças entre os seres humanos está em crescimento na nossa sociedade, a Antropologia Social. O seu movimento expressa-se pela visão da diferença como forma através da qual os seres humanos deram soluções diversas aos limites existências comuns, fazendo com que ela seja uma possibilidade de um grupo se abrir para outro. O comportamento da Antropologia Social sustenta os princípios do Relativismo, que ao mesmo tempo é um método para essa ciência e é um valor para a sociedade.
      É preciso uma preocupação e um cuidado para que esse Relativismo não venha a se tornar uma visão imposta para a aceitação das diferenças sem que estas sejam hierarquizadas. A relativização é a atitude de tentar compreender o outro, sem julgamento das diferenças, onde entender o contexto em que estamos inseridos faz-se essencial; portanto, até mesmo o Relativismo precisa ser relativizado para que não venha a ser mais um comportamento etnocêntrico.
      Levando-se em consideração os aspectos mencionados, entendemos o etnocentrismo como uma visão preconceituosa, imponente e violenta. O pressuposto de que o “outro” não tenha o desfrute da palavra para dizer ou defender algo sobre si mesmo decorre do paralelismo entre o egoísmo e a violência desse pensamento centralizador. As conseqüências de tudo isso nos faz entender que relativizar, trabalhar as diferenças e reconhecer os limites existenciais de cada um perpetua uma sociedade sadia e em constante crescimento emocional, afetivo e intelectual.


Mariana Batista 

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